Thursday 12 May 2011

Mia Degner

Da minha língua vê-se o mar
Fra min tunge er havet synligt / From my tongue the sea is visible




Exposição individual de Mia Degner
Curadoria: Luísa Santos
Round the Corner (Teatro da Trindade), 19-29 Maio 2011



“Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir.
Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação.”
- Vergílio Ferreira


«Da minha língua vê-se o mar» é o título da exposição e das obras criadas por Mia Degner (Copenhaga, 1984) para o espaço do Round The Corner.

Num diálogo com a artista sobre o porquê do tema do mar aqui e agora, ela adianta uma explicação simples: porque nasci perto do mar e Portugal é como o lugar onde nasci, aqui estou em casa. Falei-lhe de artistas portugueses (o «Mar Salgado» de João Pedro Vale, Ernesto de Sousa na praia do Guincho), que falam da relação com o mar. A Mia Degner respondia-me com Fernando Pessoa, o poeta que a introduziu a Portugal com o seu «Mar Português», e de um poema de Virgílio Ferreira, também poeta português: “Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação.”

No cruzamento de referências e ideias a Mia, ía repetindo «Da minha língua vê-se o mar» e esta foi a frase que se fixou também, como sujeito e objecto da exposição assumindo-se como título. O processo de trabalho da artista dinamarquesa começa muitas vezes com uma palavra, um poema, a letra de uma música, para designar uma série de desenhos, ou um filme. A artista, que se formou na tradição de contar histórias na The Storytelling School (Fortælleskolen) em Copenhaga, faz das palavras, um ponto de partida que revela com determinação, sem por vezes saber ainda onde elas conduzirão ou o que delas resultará em termos formais, já que o seu processo é assumidamente experimental.

Em “As Palavras e as Coisas” (1981), Michel Foucault assinala a diferença fundamental entre a imagem e a palavra: «Não que a palavra seja imperfeita, nem que, em face do visível, ela acuse um deficit que se esforçaria em vão por ultrapassar. Trata-se de duas coisas irredutíveis uma à outra: por mais que se tente dizer o que se vê, o que se vê jamais reside no que se diz.» É difícil apontar o dedo e denominar o que é o trabalho de Mia Degner, o que se vê é aparentemente uma história mas onde estão o início e o fim? No Round The Corner – na primeira exposição individual da artista em Portugal – o vídeo, o som e as colagens possuem uma identidade que se situa algures entre a poesia e o experimental. As colagens repletas de histórias das pequenas molduras são um tema recorrente: no vídeo, as imagens vão surgindo em camada sobre camada, momento sobre momento, colagem sobre colagem.

O conjunto de trabalhos aqui apresentados funcionam como uma narrativa não linear de emoções, tantas quantas o número de histórias e personagens em que os cenários têm como ponto comum o mar. Como portugueses, estamos habituados à representação do mar simultaneamente como uma emblemática paisagem portuguesa e como lugar de partida ou de passagem. O mar é, de facto, emblemático de todos os países que são privilegiados pela sua presença e a questão impõe-se: o nosso mar é o mesmo que o mar dos “outros”? Mia Degner apresenta-nos o seu mar, um mar desprovido de nacionalidades e de hierarquia narrativa.

Lisboa, Maio 2011
Luísa Santos

Alfacinhas.


Alfacinhas.
Opens on the 28th June.2011 - Lisbon.
More info on Luísa Alpalhão's blog. A project by Luísa Alpalhão, Eva Oddo and Luísa Santos.

Tuesday 26 April 2011

Um Abraço

Um Abraço amigo Paulo...


Monday 14 March 2011

O último artigo para a L+Arte, que fechou este mês.

KW 69
KW Institute for Contemporary Art
Berlim

Texto Luísa Santos







A série de exposições KW69, no KW Institute for Contemporary Art em Berlim, começou em Outubro do ano passado com a curadoria da artista Angela Bulloch (n. 1966, Canadá) e, entre 3 de Março e 3 de Abril deste ano, apresenta a quarta edição. Com um título pragmático e descomprometido, KW69 (a morada do KW é Auguststraße 69) segue a filosofia desta instituição de apresentação e produção de arte num tom reflexivo.

O KW Institute for Contemporary Art em Berlim é um lugar para produção e apresentação de arte contemporânea com forte ênfase nos conceitos mais do que nos meios ou na forma. O KW não tem colecção permanente, uma afirmação de espaço-laboratório para comunicar e desenvolver aspectos da arte contemporânea na Alemanha e internacionalmente - é, por exemplo, a base para a Bienal de Berlim, já na 7ª edição, a acontecer em 2012.

Desde 2008 que o KW não tem programa de artista em residência, parte fundamental da filosofia discursiva da instituição. Partindo desta condição e, com a série de exposições KW69, a directora, Gabriele Horn, recuperou a possibilidade de criar trabalho sem curadoria institucional. A par com o programa de exposições temporárias, a série KW69, com a duração prevista de um ano e doze exposições, apresenta-se enquanto método experimental de curadoria feita por artistas que convidam outros artistas em sucessão rápida, de uma para a exposição seguinte, em que a direcção curatorial da instituição reserva-se ao papel de anfitriã que faz o primeiro convite e, a partir deste, perde conscientemente, quaisquer tipo de controlo ou autoria. Esta será a primeira leitura mas, num segundo olhar, torna-se claro que o papel de anfitriã que nega autoria ou quaisquer papéis externos ao de mero acolhimento, acontece na mesma instância do papel de autor que impulsionou uma série de acontecimentos que são interdependentes.

Os artistas mudam de papéis, começando como artistas convidados numa exposição e passando para curadores que convidam outros artistas para a exposição seguinte e assim sucessivamente. Num jogo tão rápido quanto inesperado, surgem, inevitavelmente, pontos de referência que se cruzam (o conceptualismo que caracteriza Cerith Wyn Evans na primeira edição volta a aparecer pela voz rigorosa de Henrik Olessen na segunda), mudanças contínuas de pontos de vista (objectos enquanto reflexão de género na arte pela artista inglesa Lene Henke, e a transformação de objectos do dia-a-dia em escultura pela Sara McKillop na primeira e segunda edições, respectivamente) e usos do espaço que referem e se constroem a partir da memória da anterior.

Seguindo as ideias de interdependência e colaboração, a série teve inicio com a curadoria da artista Angela Bulloch que, sob o título “Molecular Etwas” convidou Jean-Michel Wicker (n. 1970, França) a apresentar trabalho e que, por sua vez, convidou os artistas Manfred Pernice (n. 1963, Alemanha), Roberto Matta (1911 – 2002, Chile), Christina Mackie (n. 1956, Canadá), Dominique Gonzalez-Foerster (n. 1965, França), Bruce Gilbert (n. 1946, Inglaterra), Vidya Gastaldon (n. 1974, França), Cerith Wyn Evans (n. 1958, Inglaterra), Germaine Cellier (1909 – 1976, França) para participar nesta primeira edição. A partir desta participação, os artistas Jean-Michel Wicker e Gregorio Magnani tomaram o papel de artistas-curadores para a segunda edição “cactus craze” com o convite à artista Judith Hopf (n. 1969, Alemanha) que, por sua vez, tal como na primeira edição, convidou um grupo de artistas a apresentar trabalho colectivamente. Por esta ordem sucessiva, a artista Judith Hopf apresentou a terceira edição do KW69 - “Cold Society” – com o convite à artista Kerstin Cmelka
(n. 1974, Áustria) que, de Março a Abril, toma a posição de artista-curadora ou, pelas palavras de Gabriele Horn, “o papel de anfitriã que convida um determinado grupo a entrar no seu espaço”.

É de comum conhecimento que Berlim é a cidade de eleição de muitos artistas, entre muitas razões, pelos preços relativamente baixos, e pela quantidade de espaços informais e não convencionais para expor trabalho. A generalização desta ideia já está a ter efeitos pouco positivos, como qualquer generalização. A consequência mais óbvia é a saturação de espaços ditos não convencionais que já se tornaram norma. Desde os anos 90 que Berlim tem vindo a ser definida por projectos em que os artistas assumem o papel de curadores (Silberkuppe, Stedefreund, Basso ou o West Germany, por exemplo). A história do KW foi em parte definida pela história da arte a partir dos anos 90 em Berlim. No entanto, a cidade tem sofrido inúmeras transformações nos últimos anos. Há menos espaços disponíveis e as instituições são cada vez mais formais. A série KW69 questiona o papel das instituições face às recentes mudanças da cidade, mantendo a postura critica que caracteriza o KW - na 4ª edição da Bienal de Berlim, por exemplo, abriu uma falsa Gagosian Gallery e, posteriormente, cedeu-a a artistas da cidade.

Os últimos anos têm sido lugar para exposições de grandes dimensões sob a curadoria de artistas: desde a exposição de Adam McEwen no Palais de Tokyo, em Paris, ao John Bock no Temporare Kunsthalle, em Berlim. O espaço disponível para a KW69 consiste em 30 modestos metros quadrados o que pode, numa primeira leitura, parecer pouco e coloca-se a questão de qual é a mais valia de mais uma exposição neste formato e num espaço reduzido. A rapidez de resposta que caracteriza a série KW69 produz um comentário institucional sobre as mudanças de acolhimento de arte nesta cidade. Constrói uma espécie de fio de Ariadne em que um acto responde a outro que, por sua vez, foi resposta a um acto anterior que determina a linha de pensamento e de acção. E este desconhecimento do que está para vir no momento seguinte, independentemente da sua qualidade – em Março e Abril, a selecção da artista Kerstin Cmelka – é precisamente o que caracterizou Berlim pelo que é reconhecida: a oportunidade de criar algo de novo, sem expectativas definidas para além da certeza que será algo em aberto.

Tuesday 8 February 2011

João Maria Gusmão + Pedro Paiva, Breve História da Lentidão e da Vertigem

João Maria Gusmão + Pedro Paiva, Breve História da Lentidão e da Vertigem












Galeria Graça Brandão, Lisboa
January 22 > March 12 2011
Tuesday to Saturday, 11am > 8pm

Saturday 5 February 2011


Transmediale 11 - Berlin, 02 - 06 February

Kicking off the Marshall McLuhan Centennial transmediale presents one of the Canadian media philosopher's most radical yet relatively under-explored works, COUNTERBLAST. Two very different versions of this text exist, the full 1969 edition produced in collaboration with Harley Parker, and the biting never-before published manifesto McLuhan distributed as a hand-made 'zine' in 1954. On the occasion of the 'McLuhan in Europe 2011' network initiative, with the kind permission of The Estate of Corinne McLuhan and in collaboration with the Gingko Press (Hamburg) transmediale publish a special hardcover 'limited edition' facsimile of the original 1954 'COUNTERBLAST'. Featuring an introduction by McLuhan biographer Terrence Gordon and an afterword by literary scholar Elena Lamberti this exclusive edition will be available only via transmediale!

>> To reserve a copy mail publications@transmediale.de

Saturday 29 January 2011

Augusto Alves da Silva, OPERA - Fundação EDP

Augusto Alves da Silva, OPERA



Augusto Alves da Silva, OPERA - Fundação EDP

Museu da Electricidade
28 de Janeiro a 20 de Março
Ter | Dom das 10h às 18h

A exposição resulta de uma parceria entre a Fundação EDP e o TNSC que, em 2006, encomendou a vários fotógrafos um levantamento das instalações daquele que permanece como o único teatro de ópera do país.

Augusto Alves da Silva - Domingos 13 e 27 Fevereiro às 11h30 - A ARQUITECTURA NA FOTOGRAFIA CONTEMPORÂNEA, visita com Luísa Santos
Augusto Alves da Silva - Domingo 6 Março às 11h30 - RETRATOS DE UM LUGAR, visita com Luísa Santos

Monday 24 January 2011

Jimmie Durham









































































Henning Lundkvist