Friday 6 August 2010

Exposed: Voyeurism, Surveillance and the Camera
Tate Modern: 28.Maio – 03.Outubro 2010
San Francisco Museum of Modern Art: 20.Outubro – 17.Abril 2011
Texto Luísa Santos, para L+Arte edição de Agosto



Exposed: Voyeurism, Surveillance and the Camera na Tate Modern assume-se como to a primeira grande
exposição que tenta documentar a complexa relação humana com o voyeurismo e a fotografia. É, sem
dúvida, um assunto fascinante com um carácter sociológico e os curadores Sandra S. Phillips (San
Francisco Museum of Modern Art) e Simon Baker (Tate Modern) mostram a complexidade do tema
por um caminho interpretativo numa série de catorze salas de cinco temas, com textos simples e algo
pedagógicos – como de resto a Tate Modern tem feito ao longo da sua história, no ideal de “arte para
todos” – em vez de um percurso histórico linear.


O fotógrafo furtivo
Na primeira sala somos, imediatamente, confrontados com três impressões de grande formato (122 x
152 cm) da série “Heads” (2000) de Philip Lorca diCorcia (n. 1951, EUA): retratos em grande plano de
pessoas fotografadas com flash mas absolutamente desconhecedoras de que estavam a ser observadas e
fotografadas. Na mesma sala, parte da série de Walker Evans (1903 – 1975, EUA) “Subway Passengers,
New York” dos anos 30 cria um contraste absoluto em termos formais e técnicos mas um diálogo entre
iguais pelas expressões inconscientes das pessoas (nos dois casos de Nova-Iorquinos) que não sabem que
estão a ser fotografadas.



Objectividade subjectiva
Ser observado ou observador, nesta exposição, atravessa fronteiras tão ténues como a objectividade e a
subjectividade fotográfica equivalentes, muitas vezes, ao binómio verdade e interpretação. A ideia da
imagem fotográfica enquanto verdade tem por base acreditar numa objectividade que lhe é inata o que
implica uma liberdade de quaisquer envolvimentos morais.
Giuseppe Primoli (1851-1927), Itália) fotografa Edgar Degas a sair de um urinol em Paris (Degas coming
out of a pissoir near du Boulevard du Conservatoire, 1889); Ron Galella (n. 1930, EUA) capta imagens de
Jackie Kennedy desesperadamente a fugir da câmara (What makes Jackie run? 1971). As imagens furtivas
de cenas de rua capturadas por Garry Winogrand (1928 – 1984, EUA) e Robert Frank (n. 1924, EUA)
sugerem uma fotografia que actua mais rápido que o olho humano no que toca a registar fatias de
tempo de vida real.

Um detalhe notável dos trabalhos de Frank apresentados em “Exposed” é a procura do efeito de
rapidez. Fotografias em que as cabeças são omitidas, só o corpo em movimento fica no plano. Sendo
Robert Frank um fotógrafo profissional, é difícil acreditar que tenha sido um engano ou uma
impossibilidade de fotografar os corpos na sua totalidade em várias fotografias. Mais provável, é a
procura do efeito de fotografia tirada à pressa enquanto metáfora de instante.



Os géneros da fotografia
Um dos aspectos mais particulares de “Exposed” é a não distinção entre os géneros fotográficos de massa
– reportagem, moda e fotografia de rua – e a fotografia enquanto projecto artístico. Alair Gomes (1921
– 1992, Brasil) capturou imagens com uma teleobjectiva num carácter erótico homossexual de homens
jovens a fazerem exercício numa praia do Rio de Janeiro (Beach Tryptic nº7, 1980) enquanto John
Gossage (n. 1946, EUA) escolheu pessoas numa praia Mexicana, da sua localização estrategicamente
segura, a milhas de distância da fronteira com os Estados Unidos (Untitled, from There and Gone, 1996).
Alison Jackson (n. 1960, Inglaterra) fez retratos encenados de sósias de famosos, como a Rainha
Elisabeth II a brincar com os seus cães (The Queen plays with her Corgies, das séries Confidential, 2007)

Famosos fotografados
A sala quatro, dedicada ao tema “Celebridade e o Olhar Público”, começa com uma série de fotografias que
pertencem aos primeiros registos de auto-promoção, mesmo que com carácter relativamente privado.
Durante cerca de quarenta anos, de meados ao fim de 1800 Pierre-Louis Pierson (1822 – 1913, França)
foi contratado pela Condessa francesa de Castiglione para retratá-la em poses dos mundos da moda e
do teatro. Agora, parece-nos algo tão banal como ver o auto-retrato de um amigo no facebook com uns
óculos escuros à Martini Man em frente ao espelho mas, no século XIX, terá sido das primeiras autoexpressões
pela fotografia de desejo de encarnar personagens.

O fascínio da observação
Uma ideia comum a todos os temas apresentados em “Exposed” é a ideia do fascínio da observação: de
observar e ser observado. As fotografias nas salas dedicadas ao penúltimo tema apresentado,
“Testemunhas de Violência”, mostram o apelo humano de ver e documentar eventos de violência. De
Itália, ao México e à África do Sul – a imagem de um suicida com pessoas a gritar “salta” (Associated
Press, Joanesburgo – On the Edge, 1975) - as fotografias escolhidas para este tema, originalmente
concebidas para imprensa, levantam questões sobre a ética de mostrar imagens de morte.
“Surveillance” é o último tema abordado na exposição. Uma palavra que não existe em inglês sem a
origem francesa da palavra “surveiller”, com o significado manter sob observação. Em português, a
palavra vigilância deriva do estado ou qualidade de quem é vigilante, no sentido que observa
atentamente mas também “cautela, precaução”.

“Exposed” acaba com uma imagem familiar, tendo em conta que estamos na cidade com maior número
de câmaras de vigilância da Europa. Uma projecção de um filme (Camera, 2007) de Thomas Demand
(n. 1964, Alemanha) com uma câmara de vigilância rotativa – uma imagem familiar e, aparentemente
real mas, na verdade, é uma reprodução escultórica filmada. Uma escolha inteligente para fecho de
uma exposição que levanta questões sobre o real e a interpretação. Por outro lado, as câmaras de
vigilância multiplicam-se com a insegurança contemporânea. Paralela e ambiguamente, na era do
Facebook, YouTube e outras redes sociais, assistimos a um desejo interdependente de ser mantido e de
manter sob observação.

Projeto Morrinho

Projeto Morrinho / Morrinho Project, Rio de Janeiro, 1994 - present
http://www.morrinho.com/
Project Morrinho is a social and cultural project based out of the Pereira da Silva favela in the wealthy Southern Zone of Rio de Janeiro.






Projeto Morrinho / Morrinho Project, Rio de Janeiro, 1994 - present