Monday, 3 January 2011
Susan Philipsz, vencedora do Turner Prize 2010 por Luísa Santos
Susan Philipsz, vencedora do Turner Prize 2010
Turner Prize 2010
Tate Britain, Londres: 11.Setembro – 12.Dezembro 2010
Texto Luísa Santos
Londres, Setembro 2010
Estabelecido em 1984 com o objectivo de chamar a atenção do público para a arte contemporânea, o Turner Prize tem um papel relevante na maneira como a arte contemporânea Britânica é recebida tanto nacional como internacionalmente.
Todos os anos, um júri internacional escolhe artistas Britânicos que tenham já trabalho reconhecido, muitas vezes numa escolha marcada pela controvérsia. Os júris do Turner Prize 2010 são Isabel Carlos (directora do CAM, Portugal), Andrew Nairne (director executivo Arts & Strategy, Arts Council, Inglaterra), Philip Hensher (escritor, crítico e jornalista, Inglaterra) e Polly Staple (directora, Chisenhale Gallery, Inglaterra). A exposição mostra trabalhos dos quatro artistas Britânicos na lista anunciada em Abril. O vencedor do Turner Prize 2010 será anunciado em Dezembro do mesmo ano.
Uma breve história do Turner Prize
No género Britânico extremamente rigoroso e muito menos descontraído do que o senso comum dita, o prémio foi construído sob bases sólidas e discussões intensas sobre o “como” e o “porquê” da sua existência. Durante os primeiros anos, o sentimento geral era de que a ideia do prémio sugeria uma corrida e um vencedor numa diminuição do valor da arte. Havia também particular preocupação com a lista dos nomeados, porque nenhum estava a concorrer e viam-se numa corrida em que poderiam perder sem terem sequer escolhido participar. Outra das muitas incertezas era a razão de ser do prémio: para reconhecer o trabalho de artistas Britânicos já de renome? Ou para dar a conhecer novos talentos? E se houvessem os dois tipos na mesma lista de nomeados, como escolher de maneira justa entre eles?
Uma das primeiras questões quando o prémio foi criado, foi o nome do mesmo. Poucos perceberam a relação com o pintor JMW Turner, do inicio do séc. XIX, e muitos questionaram se o artista teria aprovado. Os fundadores do prémio, os Patronos da Nova Arte da Tate Gallery, escolheram o nome deste artista porque o próprio teria tentado estabelecer um prémio para jovens artistas no séc. XIX e, apesar da controvérsia sobre o valor da sua obra em vida, é hoje visto como um dos mais significantes artistas Britânicos.
Hoje em dia, o prémio é atribuído anualmente a um artista Britânico, ou sedeado em Inglaterra, com menos de 50 anos de idade por uma exposição ou outra apresentação do seu trabalho nos 12 meses anteriores à data da atribuição do prémio.
O prémio é atribuído por um júri independente e diferente todos os anos. Os quatro artistas nomeados apresentam uma selecção dos seus trabalhos numa exposição colectiva na Tate Britain antes do vencedor ser anunciado em Dezembro. A decisão não é tomada com base na exposição na Tate mas pelo trabalho que levou à sua nomeação.
Ao longo das últimas décadas o Turner Prize tem provocado debates acesos sobre as artes visuais, em particular da Inglaterra, e continua a ser um dos prémios de maior prestígio a nível europeu. Desde 2004 que o prémio tem um valor generoso de £40,000 (cerca de €47 000).
Os nomeados de 2010
As instalações no limiar entre a escultura e a pintura de Angela de la Cruz (n. 1965, Espanha), lembram o trabalho pictórico muralista do vencedor do ano passado, Richard Wright (n. 1960, Inglaterra).
E, tal como Wright, a artista Susan Philipsz (n. 1965, Escócia) é produto do fantástico ambiente e das escolas artísticas escocesas (Wright estudou, tal como Philipsz, na Glasgow School of Art). Susan Philipsz cria instalações de músicas (não apenas “sons”) em espaços públicos como pontes (Sculpture Projects Muenster, 2007), passagens (The Internationale, 1999, Lituânia) e até cemitérios (Follow Me, 2006, Santiago de Compostela). Entre os quatro nomeados, é talvez a mais inspiradora e a mais reveladora do que é esperado na arte contemporânea.
O Otolith Group (Kodwo Eshun e Anjalika Saga) assume-se como altamente teórico e daí não passa. Quem tem o mesmo tipo de interesse ou percurso cultural (Teoria do Filme, Literatura e Antropologia), percebe e está no mesmo terreno de imagens e referências. Quem desconhece, dificilmente será tocado por citações que vão de Tarkovsky a Derrida e Farocki. Não se trata das citações, que têm um interesse inegável, mas do modo como são transmitidas, num tom distante e já tão reflexivo que dão pouco espaço a um terceiro olhar (o do público).
O ponto realmente inesperado pela negativa do prémio deste ano, é o artista Dexter Dalwood (n. 1960, Inglaterra), do movimento esquecido “novo realismo neurótico” do final dos anos 90. As suas telas são fracas a nível conceptual, especialmente se comparadas com jovens artistas alemães da New Leipzig School ou artistas britânicos da sua geração (como por exemplo Gary Hume, Bob & Roberta Smith e Marcus Harvey).
O futuro ou um regresso ao passado?
Vinte seis anos depois da primeira atribuição do prémio (ao pintor Malcolm Morley em 1984), o outrora controverso Turner Prize arrisca-se a ser recebido com indiferença.
Uma das atitudes mais inovadoras do director da Tate, Sir Nicholas Serota, foi a parceria que criou em 1991 com o Channel 4 para emitir o Turner Prize. Nos anos seguintes, muitos artistas britânicos fizeram trabalho provocativo com o objectivo de criar uma reacção nos media, eram feitos propositadamente para a televisão. Conseguiram a atenção de jornais, rádios e televisões que ganharam audiências (ao mesmo tempo que a arte ganhava outros públicos) a reportar as provocações e os artistas continuaram a criar e a reagir. Foi uma relação intensa, apaixonada e curta.
Nos últimos anos, tem havido uma maturação generalizada paralela a uma quietude que não é própria da arte contemporânea. Afinal, quando pensamos em contemporâneo, pensamos em inovação e não num lugar de verdades absolutas. O vencedor do ano passado, por exemplo, Richard Wright, caracteriza-se por uma pintura sóbria longe de quaisquer características criticas e do frenesim activista de artistas urbanos como Bansky. A atitude do Turner Prize nos últimos anos parece mostrar uma atitude colectiva mais sóbria e acrítica. Mas não são estes pressupostos a antítese da arte contemporânea?
A grande conquista do Turner Prize foi, na década de noventa, a grande audiência de um público muito variado, de arte contemporânea em Inglaterra. Mas, agora que esta conquista é um dado adquirido, será que consegue manter o interesse do público, num modo cada vez mais normativo e menos controverso? Ou, para consegui-lo, terá que voltar ao modo como começou, repleto de desconfiança e apresentações inesperadas? Tal como o Bansky, que, ao contrário dos rumores, não foi nomeado, o Turner Prize é um caso sociológico interessante. Talvez mais interessante sociológica do que artisticamente.
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